Dedicação à fé

Correio Braziliense

Brasília, quarta-feira,

13 de fevereiro de 2002

Dedicação à fé

O jesuíta Álvaro Pimentel é o primeiro brasiliense a ser ordenado padre pela Companhia de Jesus. Ele descobriu a vocação aos 15 anos

Da Redação

Carlos Moura

Álvaro Pimentel decidiu ingressar na congregação durante uma aula na Universidade de Brasília. Na época, ele tinha 21 anos Gestos tranqüilos, fala mansa, olhar acolhedor, 34 anos - 13 deles dedicados aos estudos de Filosofia e Teologia e à formação religiosa. Assim é Álvaro Pimentel, o primeiro brasiliense ordenado padre jesuíta. Olhando para o homem de sorriso largo e de barba bem feita, ninguém imagina, à primeira vista, que ele celebra missas e vive em função dos ensinamentos de Jesus Cristo. Só o crucifixo de madeira pendurado no pescoço dá a dica da vida casta e religiosa.

O filho da dona de casa Mara Pimentel e do aposentado Álvaro Madruga encontrou o caminho da religião aos 15 anos, numa reunião de jovens na igreja que pouco freqüentava. ''A partir daí, desejei ler todo o Evangelho. A leitura me dava uma alegria e uma paz que só vem por causa da fé'', diz o jesuíta.

Dois anos depois, o adolescente dividia o tempo entre as atividades típicas da idade e os primeiros passos da vocação. Aos 17 anos, o rapaz bonito namorava, gostava de barzinhos e curtia a lua cheia. Mas o programa preferido de Álvaro era mesmo encontrar-se com os amigos, conversar e beber um pouquinho de vinho. A mesma bebida que hoje toma em pequenos goles durante as celebrações na igreja lotada de cristãos.

Mas a preocupação com a dor de outros e o desejo de aliviar o sofrimento alheio prenunciavam a decisão que Álvaro tomaria: fazer parte da Companhia de Jesus, a ordem dos jesuítas. ''Os jesuítas sempre trabalham unidos a serviço da fé e da promoção da justiça'', ensina o novo padre. A congregação, que desembarcou no Brasil ainda no século 16, tem mais de 20 mil seguidores espalhados por todos os continentes e prega o trabalho missionário de educar e levar a palavra de Deus a quem precisa.

O estudante universitário de Agronomia, amante de plantas e bichos, abandonou tudo. Há 13 anos, durante uma aula de Química Orgânica, na Universidade de Brasília (UnB), guardou livros e cadernos e decidiu que queria ser padre. Tinha 21 anos. A opção preocupou amigos e familiares. ''No começo, fiquei na dúvida se ele ia conseguir. Achei que seria uma experiência e pronto. Chorei muito no dia em que ele foi para o noviciado em Campinas'', lembra-se dona Mara, a mãe de Álvaro.

As lágrimas de saudade do filho mais velho secaram logo. Para ter o primogênito sempre por perto, Mara viajava e passava alguns dias ao lado de Álvaro, que morou em Campinas, João Pessoa, Belo Horizonte e estudou até na França. ''Foi quando senti muita falta dele. Não pude vê-lo durante três anos'', recorda a mãe.

Se para a família o começo não foi fácil, para Álvaro o sacerdócio, às vezes, mexia com as emoções. ''Passei por alguns momentos de solidão. Era uma época em que meus amigos estavam casando e tendo filhos. Foi um período de desapego total'', conta o religioso, que encontrou na fé e na vocação a força para seguir em frente. ''Nunca pensei em desistir, só deixei brotar o que sentia para, em seguida, encontrar o caminho da paz.''

Os Jesuítas

A Companhia de Jesus foi fundada em 1534 por Inácio de Loyola, um nobre espanhol. O objetivo da ordem jesuíta era formar verdadeiros soldados de Cristo, com o dever de catequizar e educar os povos. No Brasil, eles chegaram na Bahia no ano de 1549, junto com Tomé de Souza, o primeiro governador-geral do Brasil. O papel dos padres era converter os indígenas à fé católica. Eles construíram dois colégios - um na Bahia, outro em São Vicente -, para iniciar os meninos órfãos ao sacerdócio. Mais tarde, as escolas dos jesuítas passaram a atender os colonos e seus filhos - aprendiam
gramática, retórica, Filosofia e Matemática.

Manoel da Nóbrega foi um deles. Suas atividades religiosas foram decisivas para a liberdade dos índios e para a instrução das crianças. Três anos depois, desembarcava em terras brasileiras outro jesuíta famoso: o padre José de Anchieta, um poeta, missionário e educador. Ele aprendeu tupi-guarani e se tornou um os maiores educadores do Brasil, depois de erguer capelas, igrejas, escolas e as missões - locais onde os índios se afastavam do contato dos brancos para ouvir a palavra de Deus.

Em 1759, os jesuítas foram expulsos do Brasil pelo marquês de Pombal, ministro de dom José I de Portugal. Ele acreditava que a Companhia de Jesus poderia superar o poder de Portugal dentro da colônia brasileira.

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