Se
		de Rudyard Kipling (tradução de Guilherme de Almeida)
		
		
		Se és capaz de manter a tua calma quando
		Todo o mundo ao teu redor já a perdeu e te culpa;
		De crer em ti quando estão todos duvidando,
		E para esses no entanto achar uma desculpa;
		Se és capaz de esperar sem te desesperares,
		Ou, enganado, não mentir ao mentiroso,
		Ou, sendo odiado, sempre ao ódio te esquivares,
		E não parecer bom demais, nem pretensioso;
		Se és capaz de pensar - sem que a isso só te atires;
		Se encontrando a desgraça e o triunfo conseguires
		Tratar da mesma forma a esses dois impostores;
		Se és capaz de sofrer a dor de ver mudadas
		Em armadilhas as verdades que disseste,
		E as coisas, por que deste a vida, estraçalhadas,
		E refazê-las com o bem pouco que te reste;
		Se és capaz de arriscar numa única parada
		Tudo quanto ganhaste em toda a tua vida,
		E perder e, ao perder, sem nunca dizer nada,
		Resignado, tornar ao ponto de partida;
		De forçar coração, nervos, músculos, tudo
		A dar seja o que for que neles ainda existe,
		E a persistir assim quando, exaustos, contudo
		Resta a vontade em ti que ainda ordena: "Persiste!";
		Se és capaz de, entre a plebe, não te corromperes
		E, entre reis, não perder a naturalidade,
		E de amigos, quer bons, quer maus, te defenderes,
		Se a todos podes ser de alguma utilidade,
		E se és capaz de dar, segundo por segundo,
		Ao mínimo fatal todo o valor e brilho,
		Tua é a terra com tudo o que existe no mundo
		E o que mais - tu serás um homem, ó meu filho! 
		
		de Rudayard Kipling
		Tradução de Guilherme de Almeida