| HABEAS  PINHO - UMA POESIA E SUA HISTÓRIA Em Campina Grande, na Paraíba, em 1955, um grupo de boêmios fazia serenata numa madrugada do mês de junho, quando chegou a polícia e apreendeu o
 violão. Decepcionado, o grupo recorreu aos serviços do advogado Ronaldo
 Cunha Lima, então recentemente saído da faculdade e que também apreciava
 uma boa seresta.
 Ele peticionou em Juízo, para que fosse liberado o violão. Esse petitório ficou conhecido como "Habeas Pinho" e enfeita as paredesde
 escritórios de muitos advogados e bares em praias do Nordeste.
 Mais tarde, Ronaldo Cunha Lima foi eleito deputado estadual, prefeito deCampina Grande (cassado pelo Golpe Militar de 1964), senador da República,
 governador do Estado e  deputado federal.
 Vejamos a famosa petição: HABEAS PINHO Exmo. Sr. Dr. Juiz de Direito da 2ª Vara desta Comarca O instrumento do crime que se arrolaneste processo de contravenção
 não é faca, revólver nem pistola,
 é simplesmente, doutor, um violão.
 
 Um violão, doutor, que na verdadeNão matou nem feriu um cidadão.
 Feriu, sim, a sensibilidade
 de quem o ouviu vibrar na solidão.
 
 O violão é sempre uma ternura,instrumento de amor e de saudade.
 O crime a ele nunca se mistura.
 Inexiste entre eles afinidade.
 
 O violão é próprio dos cantores,dos menestréis de alma enternecida
 que cantam as mágoas que povoam a vida
 e sufocam suas próprias dores.
 
 O violão é música e é canção,é sentimento vida e alegria,
 é pureza é néctar que extasia,
 é adorno espiritual do coração.
 
 Seu viver como o nosso é transitório,mas seu destino, não, se perpetua.
 Ele nasceu para cantar na rua
 e não para ser arquivo de cartório.
 
 Mande soltá-lo pelo amor da noiteque se sente vazia em suas horas,
 p'ra que volte a sentir o terno açoite
 de suas cordas leves e sonoras.
 
 Libere o violão, Dr. Juiz,Em nome da Justiça e do Direito.
 É crime, porventura, o infeliz,
 cantar as mágoas que lhe enchem o peito?
 
 Será crime, e afinal, será pecado,será delito de tão vis horrores,
 perambular na rua um desgraçado
 derramando na rua as suas dores?
 
 É o apelo que aqui lhe dirigimos,na certeza do seu acolhimento.
 Juntada desta aos autos nós pedimos
 e pedimos também DEFERIMENTO.
 
 Ronaldo Cunha Lima, advogado.
 O juiz Arthur Moura deu sua sentença no mesmo tom:
 Para que eu não carregueremorso no coração,
 determino que se entregue
 ao seu dono o violão.
 
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