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		Mentiram-me.
 Mentiram-me ontem
 e hoje mentem novamente.
 Mentem de corpo e alma completamente.
 E mentem de maneira tão pungente
 que acho que mentem sinceramente.
 Mentem sobretudo impunemente.
 Não mentem tristes,
 alegremente mentem.
 Mentem tão nacionalmente
 que acho que mentindo história afora
 vão enganar a morte eternamente.
 Mentem, mentem e calam
 mas nas frases falam e desfilam de tal modo nuas
 que mesmo o cego pode ver a verdade em trapos pelas ruas.
 Sei que a verdade é difícil e para alguns é cara e escura,
 mas não se chega à verdade pela mentira
 nem à democracia pela ditadura.
 Evidentemente crer que uma flor nasceu em Hiroshima
 e em Auschwitz havia um circo permanentemente.
 Mentem, mentem caricaturalmente,
 mentem como a careca mente ao pente,
 mentem como a dentadura mente ao dente
 mentem como a carroça à besta em frente,
 mentem como a doença ao doente,
 mentem como o espelho transparente
 mentem deslavadamente como nenhuma lavadeira mente ao ver a nódoa sobre 
		o rio
 mentem com a cara limpa e na mão o sangue quente,
 mentem ardentemente como doente nos seus instantes de febre,
 mentem fabulosamente como o caçador que quer passar gato por lebre
 e nessa pilha de mentiras a caça é que caça o caçador
 e assim cada qual mente indubitavelmente.
 Mentem partidariamente,
 mentem incrivelmente,
 mentem tropicalmente,
 mentem hereditariamente,
 mentem, mentem e de tanto mentir tão bravamente
 constróem um país de mentiras diariamente.
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