PETER JACKSON: "UMA OBRA QUE INSPIRA"

Transportando  para a tela o livro de J.R.R. Tolkien, “O Senhor dos Anéis”, o cineasta neozelandês entra para a história do cinema.  O realizador produziu com esta obra, conhecida como inadaptável, uma trilogia excepcional.  Após “A Sociedade do Anel”, será preciso esperar dois anos para assistir aos próximos episódios.

FONTE: Jornal  “Le Figaro”

www.lefigaro.fr

LE FIGARO

Entrevista de Emmanuelle Frois

Publicada em 18 de dezembro de 2001.

Peter Jackson se parece com um Hobbit que fugiu da Terra-Média. Chova ou faça sol ele está sempre de bermuda.  E quando está na cidade  - como agora na Inglaterra no hotel Dorchester onde ele concede suas entrevistas -, ele costuma ficar descalço.  De fato, o cineasta neozelandês  é um verdadeiro general  – do gênero Uruk-Hai, que entra na história do cinema por ter trazido às telas a obra de J.R.R. Tolkien, O Senhor dos Anéis, conhecida como inadaptável e por ter realizado simultaneamente os três episódios da saga.

         Peter Jackson começou uma batalha jogando em todas as direções, comandando suas tropas por meio de transmissões por satélite enquanto elas “combatiam”  em quatro lugares diferentes de filmagem.  Para conseguir este resultado, utilizou inúmeros artifícios, efeitos especiais dos mais sofisticados, assim como, as técnicas e os efeitos mais antigos do mundo. Sua infância foi marcada pela versão original de King Kong de 1933 e as criaturas míticas dos filmes de Harryhausen.

         Conforme sua biografia afirma, Perter Jackson nasceu em 31 de outubro de 1961, no dia da Festa de Halloween, o que o teria conduzido a realizar filmes destacados principalmente pela fantasia, pelo horror, o imaginário e o além. Peter Jackson conta a grande aventura de sua vida, a de um anel, único, estimado em 270 milhões de dólares.

LE FIGARO: Você estava suficientemente preparado para enfrentar esse desafio?

Peter JACKSON: Eu tenho experiência como cineasta mas eu nunca tinha realizado um blockbuster.  Eu não sou exatamente o tipo de pessoa que escolheriam para fazer este tipo de filme.

Qual é o segredo dessa empresa?

A preparação do projeto, que durou seis anos.  Eu desenvolvi uma poderosa infraestrurura cinematográfica na Nova Zelândia. Criamos e desenvolvemos nossa própria companhia de efeitos especiais, comprei um estúdio e tenho um laboratório de filmes.  Mesmo sendo um projeto caro, custou a metade de um filme realizado nos Estados Unidos.  Por outro lado, num plano artístico eu considero que O Senhor dos Anéis tem mais características de um filme independente do que um filme de Hollywood.

Os direitos da saga de J.R.R. Tolkien pertenciam a Saul Zaentz.  Você tinha planos de realizar O Senhor dos Anéis com a Miramax.   Quais foram as razões que o fizeram finalmente decidir pela empresa New Line?

Miramax tinha o direito de avaliar, em primeiro lugar, o projeto.  Harvey Weinstein não queria ter o risco de fazer três filmes, como havíamos planejado, mas dois.  Nós nos entendemos durante dezoito meses e desenvolvemos os dois cenários.  Miramax é uma filial da Disney e acima de um limite de 90 milhões de dólares, Harvey Weinstein devia pedir uma permissão especial para ultrapassar o orçamento.  Diante da recusa da Disney, Harvey nos propôs fazer um único filme de três horas. Isto estava fora de questão.  Seria melhor desistir! Harvey nos concedeu um prazo de quatro semanas para encontrar outros sócios.  Ao término do prazo,  ele chamaria outro produtor.  Nós fomos a vários estúdios e recebemos respostas negativas.  No dia em que iríamos partir para Nova Zelândia, procuramos sem grandes expectativas, a Ney Line.  Bob Shaye, o presidente, nos disse: “Eu não sei  por que vocês só querem produzir dois filmes, seria melhor produzir três!”

Qual a lição que se tiraria disto?

New Line é uma companhia com espírito livre e independente que aceitou um risco gigantesco. Os grandes estúdios não tiveram essa coragem.  Hollywood transformou-se num lugar bastante conservador.  Depois dos últimos anos, os filmes de grande orçamento sofreram muito pela falta de aventura e de ambição.

Você descobriu este livro quando tinha 17 anos, e desde então, você não cessou de querer  adaptá-lo ao cinema.  O que o fascina tanto nessa obra?

É uma obra que inspira. Basta fechar os olhos e se deixar levar pela imaginação....  Eu fiz o filme para mim, o maior fã de Tolkien! Quando mergulhamos no coração desta epopéia, tudo acaba sendo real, autêntico como se Tolkien tivesse escrito acontecimentos puramente históricos.  A narrativa realmente está  cheia de elfos, hobbits, trolls, anões, mas há muitos detalhes verossímeis.  Isto nos orientou com relação  à  adaptação: nós não deveríamos fazer um filme fantástico ou maravilhoso, mas um filme realista.  Esta filosofia também ditou a maneira pela qual eu dirigi os atores. Eu não queria que eles atuassem de forma estereotipada mas que atuassem “verdadeiramente”.

Há mudanças na adaptação?

O tom do filme reflete finalmente o do livro.  Nós, contudo, fizemos algumas pequenas mudanças.  Por exemplo, valorizamos mais o personagem Arwen, interpretado por Liv Tyler.  Arwen, a Dama da Floresta dourada, só aparece no terceiro livro.  Mas ela representa um papel fundamental na vida de Aragorn. No filme, ela salva Frodon, e no livro ela era um elfo -  que só reaparecerá mais tarde.

A distribuição do filme foi brilhante.  A escolha dos atores foi uma intuição própria?

Desde o início, nós havíamos escolhido Ian McKellen-Gandalf, Christopher Lee-Saroumane, Viggo Mortensen-Aragorn, Sean Bean-Boromir.... Mas quem poderia fazer o papel de Frodon Sacquet, o herói responsável pelo anel?  Nós entrevistamos 200 atores ingleses.  Foi em vão.  Então um vídeo chegou dos Estados Unidos, enviado por Elijah Wood.     Eu conhecia o seu nome mas não conhecia seus filmes.  Ele sabia que estávamos em Londres, que não contrataríamos o elenco em Los Angeles.  Na fita, Elijah aparecia no meio de uma floresta falando e vestido como um Hobbit.  Foi impressionante. Frodon era ele!

Foi difícil realizar os três filmes simultaneamente?

Trabalho triplicado!  Eu pensei que seria mais fácil mas as dificuldades foram se multiplicando.  E acrescentou-se a isso o cansaço acumulado pelos quinze meses de filmagem...

Parece que você se transformou num “herói nacional” na Nova Zelândia!

Nos últimos anos O Senhor dos Anéis trouxe mais lucro para a Nova Zelândia do que a exportação de vinho.  O governo da Nova Zelândia não nos ajudou financeiramente, mas nos ajudou de maneira prática.  O ministro da Defesa colocou a nossa disposição seu exército, para as nossas grandes cenas de batalhas.

Para ler: “O Senhor dos Anéis, a Sociedade do Anel”, livro do filme – de autoria de Jude Fisher. Editora: Le Pré aux Clercs (16 Euros ou 118,07 F).

“O Senhor dos Anéis,  o guia oficial de Brian Sibley”.  Editora: Le Pré aux Clercs (16 Euros ou 104,95 F).

1TRADUÇÃO DE ELIZABETH FERNANDA C. BARROS
Assessora Executiva do Cineclube dos Educadores
e da Assessoria de Imprensa Theresa Catharina

REVISÃO DE THERESA CATHARINA G. CAMPOS

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